Dia do Fusca: dirigimos o carro que foi mostrado ao presidente em 1993


Sobrenome do presidente virou apelido quando o Fusca voltou a ser produzido; exemplar é mantido há 30 anos como novo pela Volkswagen 20 de janeiro é uma das duas datas que celebram a existência do Fusca no Brasil (a outra, comemorada em todo o mundo é 22 de junho). O dia foi escolhido porque marca o início da produção do carrinho no país, em 1959. Até então, as peças chegavam em caixas e eram apenas montadas — primeiro em um galpão no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Depois, na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), inaugurada em 1957.

Para não passar o dia em branco, a Volkswagen do Brasil resolveu abrir as portas de seu acervo de carros clássicos e convidou Autoesporte para uma voltinha em um dos três Fusca do acervo.
O modelo em questão é também um dos mais importantes do país. A unidade de chassi 9BWZZZ11ZPP000001 é simplesmente a primeira a ser produzida em agosto de 1993, após o pedido pessoal do presidente Itamar Franco para que a Volkswagen trouxesse de volta o Fusca.

Antes de seguir, vamos contextualizar. No início de 1993, para incentivar a compra de carros populares, o governo reduziu de 20% para 0,1% o Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) dos veículos com motor 1.0, beneficiando modelos como Volkswagen Gol 1000, Fiat Uno Mille e Ford Escort Hobby. Não satisfeito, Itamar Franco se reuniu pessoalmente com a diretoria da VW e pediu que a marca voltasse a produzir o Fusca, fora de linha desde o final de 1986.
Em 1993, governo baixou o IPI para carros com motor até 1.0 e até 1.6 (refrigerados a ar)

Como uma forma extra de incentivo, o IPI reduzido também passou a ser válido para veículos com motores até 1.6 refrigerados a ar. Exatamente o mesmo que o Fusca usava. No fim, a Kombi também acabou beneficiada. Com o “empurrãozinho”, a Volks decidiu reativar a linha de produção do Fusca.
Maquinário havia sido vendido
Lanternas escurecidas e adesivo com o nome do carro eram novidades de 1993

Contratou 800 pessoas e investiu US$ 30 milhões, parte do valor usado na compra do maquinário que havia sido vendido anos antes.

Ainda que o ferramental tenha sido recuperado, foi preciso mudar parte do projeto do Fusca para atender às legislações da época. Freios da disco nas rodas da frente, parabrisa laminado, um novo catalisador, escapamento de saída única e barras estabilizadoras na frente e atrás foram adotados.
Fusca Itamar tem bancos emprestados do Gol

Dentro, os bancos foram emprestados do Gol, característica que obrigou a Volkswagen a mudar também a ancoragem das peças. Na estética, faixa lateral amarela, para-choques pintados na cor da carroceria e lanternas escurecidas identificavam um Fusca Itamar.
Assim, adaptado para tempos nem tão novos, em 28 de agosto de 1993, a linha de montagem em São Bernardo voltava a produzir o Fusca. E a primeira unidade acabou sendo guardada.
Faixa lateral era novidade do Fusca em 1993
Murilo Góes/Autoesporte

Depois de 30 anos, Autoesporte esteve na fábrica do ABC Paulista e pôde dirigir esse mesmo exemplar, mantido como se fosse novo por uma equipe comprometida de funcionários. Aqui, um adendo. Este que vos escreve já havia dirigido Kombi, Fiat 147, Chevrolet Opala, mas nunca um Fusca. Assim, a experiência pode ser considerada ainda mais única. Talvez tão grande quanto a responsabilidade de guiar um carro com menos de 340 km no odômetro e que nunca foi emplacado ou saiu das dependências da empresa.
Com o devido cuidado, o Fusca é tirado do galpão da Garagem Volkswagen pela estreita porta de vidro. Tudo pronto, dou a partida, já em uma das alamedas da fábrica de São Bernardo do Campo. O motor 1.6 refrigerado a ar desperta com o ronco característico dos propulsores de cilindros contrapostos (quatro, no caso). Engato a primeira marcha, que entra sem reclamar, tiro o pé da embreagem lentamente, quase ao mesmo tempo em que começo a pressionar o acelerador. O fusquinha arranca.
Interior simples e com pedais e volante deslocados em relação ao banco
Murilo Góes/Autoesporte
Com todo respeito que um clássico merece, vou devagar, sem passar de 40 km/h. Segunda e terceira marcha são engatadas sem esforço. Mas noto que os pedais e o volante estão deslocados para a direita em relação ao banco. Característica de projeto. Sempre foi assim. Da mesma forma que a direção sem assistência se mostra um exercício físico para os braços na hora das manobras. Conforme a velocidade aumenta, fazer curvas fica mais fácil.
Em 1993, esse motor de 1.600 cm³ rendia medianos 58,7 cv. Hoje, qualquer 1.0 alcança 70 cv. Mas a potência é suficiente para empurrar o carrinho de 825 kg, desde que o motorista não tenha pressa. Nos números da ficha técnica da época, a aceleração até os 100 km/h podia ser feita em 14,3 segundos, melhor do que os 16,7 s que levamos para chegar na mesma velocidade com um Fiat Mobi em 2021. A comparação com os carros 1.0 não é nova. Três décadas atrás, a própria Volkswagen trazia um comparativo com os modelos com motor “mil”.
E muitos deles acabaram se transformando em concorrentes do Fusca Itamar. Volkswagen Gol (o quadrado, depois o bolinha), Fiat Uno e Palio, Chevrolet Corsa e Ford Fiesta. Todos com projetos (muito) mais modernos e preço semelhante (na casa dos R$ 7.500) acabaram fazendo com que o veterano Fusca não tivesse bom desempenho nas vendas em grandes cidades.
Volante era o mesmo do Gol
Murilo Góes/Autoesporte
A saída para a Volkswagen foi colocar o simpático carrinho nas revendas do interior do país, onde gozava de uma excelente reputação, principalmente pela mecânica descomplicada.
Assim, entre 1993 e 1996, cerca de 40 mil exemplares do Fusca Itamar foram produzidos — os últimos 1.500 da Série Ouro. Saia de cena para uma merecida aposentadoria, dessa vez de forma definitiva, o maior ícone da indústria automotiva brasileira.
Volkswagen Fusca Itamar 1993
Murilo Góes/Autoesporte
Volkswagen Fusca Itamar 1993

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