Jodie Foster, Issa López e Kali Reis contam detalhes de ‘True Detective: Terra Noturna’


Quarta temporada traz narrativa de suspense e terror cósmico para dias longos de inverno no Alasca – Vogue conversou com as protagonistas e a diretora quando estiveram de passagem pelo Brasil Quem assistiu a primeira temporada de True Detective, por certo, tem ela guardada no coração como uma das coisas mais incríveis já feitas na TV – sem exageros. A junção de elementos que vão desde a química de atuação de Matthew McConaughey e Woody Harrelson até a atmosfera gótica de uma Louisiana em decadência fazem dos episódios um acontecimento cinematográfico. Dez anos depois da estreia, a HBO Max lança os novos episódios de True Detective: Terra Noturna, quarta temporada protagonizada por Jodie Foster e Kali Reis, com roteiro, direção e produção executiva de Issa López.
A história conduz os espectadores por um suspense que beira o terror cósmico: oito homens desaparecem de um centro de pesquisa na fictícia cidade de Ennis, no Alasca. A única pista encontrada no local conecta o caso a outro do passado. Liz Danvers (Jodie Foster) e Evangeline Navarro (Kali Reis), envolvidas na situação de seis anos atrás, são escaladas para desvendar o mistério. No paralelo, a nova temporada ainda levanta questões sócio-culturais a respeito dos descendentes de nativos indígenas norte-americanos e a solidão reforçada pela localização geográfica – por ali, não só as temperaturas podem chegar a -30º, como também existem dias sem luz solar.
E assim como a primeira temporada da antologia de crimes, True Detective: Terra Noturna apresenta uma dinâmica interessante entre as protagonistas. “Foi maravilhoso construir isso. Penso que as personagens Danvers e Navarro são ótimas inimigas: elas se odeiam, mas ao mesmo tempo se respeitam e trabalham bem juntas”, comenta Jodie Foster em entrevista à Vogue Brasil. “Elas tomaram a decisão de que essa seria a última vez que vão colaborar, porque se odeiam, mas estão entrelaçadas para sempre. E Issa criou essa dinâmica de um jeito tão bonito no roteiro que só nos restou mergulhar nele”, diz a vencedora do Oscar quando esteve de passagem pelo país durante a CCXP 23.
Saiba mais
Kali Reis teve a mesma sensação. “Meio que aconteceu, sabe? Você consegue ver que existe uma química natural. Como Jodie disse, elas se amam e se odeiam, mas se respeitam, respeitam a ética de trabalho uma da outra, porque sabem que precisam de ajuda para concluir o caso”, conta a atriz. Na visão da criadora, a mexicana Issa López, diretora de comédias românticas e do filme de terror indie Os Tigres Não Têm Medo (2017), Liz e Evangeline são opostos complementares. “Sempre pensei que elas seriam uma única mulher; o lado esquerdo e o lado direito do cérebro. Elas são incompletas se não estão juntas”, diz.
Kali Reis e Jodie Foster em ‘True Detective’
Divulgação
Durante os seis episódios, é possível perceber como essa relação vai se costurando e a complexidade das interações. Enquanto Liz Danvers é mais velha, mais racional e, por vezes, ríspida no seu modo de agir e trabalhar, Evangeline Navarro move corpo e mente de acordo com as emoções que tenta esconder. “No final, essa sensação de completude que vai se construindo ajuda elas a superar o gelo que tinham colocado em cima daquilo que tentaram esconder”, explica Issa López. “No fundo, elas são almas gêmeas.”
Outro destaque da nova temporada é a estética da série, característica que também marcou a primeira, com cores amarelo-esverdeadas, peles suadas e superfícies amadeiradas. Aqui, porém, acontece o oposto. Num contexto muito abaixo de zero, a predominância é do breu, do céu escuro, da atmosfera noturna que toma conta até dos pensamentos dos personagens – daí o título da temporada. “A regra era gelo e escuridão, preto e branco. Usamos isso em todas as referências visuais, principalmente na direção de fotografia. Você nunca vê a imagem completa, nítida, sempre tem partes escondidas”, comenta a diretora, produtora executiva e co-roteirista.
Para Issa López, era crucial tal construção visual por estar diretamente relacionada com a história que ela criou. “Você não vê o quadro completo, portanto não vê o personagem completo. A verdade fica escondida até o final. No lugar de lutar contra a escuridão, nós abraçamos ela para manter inacessível alguns pontos do enquadramento. Existe a presença da escuridão porque você não consegue ver toda a verdade. E essa é a essência da série.”
Issa López em ‘True Detective’
Divulgação
Dentro dos elementos técnicos que compõem a narrativa visual de um filme ou série, está também a equipe de figurino, responsável pela caracterização dos personagens. Em True Detective: Terra Noturna, quem assina a concepção das vestimentas usadas é Alex Bovaird, figurinista de The White Lotus, também da HBO Max. “No segundo que coloquei o uniforme, pensei: ‘Já sei quem é Danvers’. Há algo especial em usar botas, chapéus, luvas grandes e todas essas coisas, sair daquelas picapes enormes. Isso tudo mostra como é a vida de um policial no meio do nada. Sou muito grata a Alex por isso”, diz Jodie Foster.
A sensação é a mesma para a sua parceira de tela. “Por mais idiotas que aquelas calças pareçam, eu senti a autoridade, senti como aquela personagem se comportaria”, brinca Kali Reis. Como as gravações foram feitas na Islândia, em temperaturas bem próximas da sensação térmica que a série passa, o mais importante para todas elas era ter vestimentas que as deixassem aquecidas.
Cena de ‘True Detective’
Divulgação
“Manter-se quente estava no topo da lista de todos no set. E isso foi incrível porque sentimos como se estivéssemos nessas casas, nessa cidade… O elemento natural do frio e da escuridão estava lá. Foi um lugar muito acessível para chegar [na atuação]. A escuridão tem seu próprio caráter”, comenta Kali. “Imagine viver aquele longo período de escuridão: que tipo de emoções isso traz à tona? Quais pensamentos passam pela sua cabeça? Isso [a caracterização e ambientação] nos ajudou muito.”
Representatividade
Essa é a primeira vez que True Detective tem uma dupla de mulheres protagonistas. Antes disso, apenas Rachel McAdams encarnou uma detetive-protagonista quando fez o papel de Antigone “Ani” Bezzerides na segunda temporada. Sem contar que também esta é a temporada com mais diversidade de gênero e racial dentro e fora das telas.
“Nós queremos ver isso acontecer novamente. Ainda estou desacreditada que a HBO Max deu um projeto do tamanho deste, algo que eles estavam tentando reviver há muito tempo, para uma diretora mexicana que tinha feito um pequeno filme de terror que eles adoraram”, comenta Issa López, que não esconde a empolgação ao falar sobre o projeto e as atrizes que conseguiu escalar. “Muitas vezes, pensei ‘como tudo isso vai funcionar junto?’, mas, quando vi o primeiro corte de edição, pensei ‘vai dar certo’. Só então pude respirar fundo.”
O desejo das três para o futuro do cinema é justamente o investimento, seja de estúdios, distribuidoras e até mesmo fundos de fomentação da cultura, em histórias contadas por pessoas que sempre foram marginalizadas pela indústria. “Eu acredito que isso é algo extremamente importante das pessoas ouvirem: a originalidade é a sua força. O nosso poder está em olhar para aqueles que foram esquecidos, que estavam invisíveis ou dominados por estereótipos e visões que já não funcionam mais”, afirma Jodie Foster que também expandiu a carreira de atriz para diretora e produtora executiva nos últimos anos. “A força da nossa série está na autenticidade, com os pés fincados no chão e uma certa espiritualidade. Além da habilidade de oferecer diferentes oportunidades para outras vozes, especialmente das pessoas indígenas.”
Kali Reis, que possui ascendência de povos originários das tribos de Cherokee, Nipmuc e Seaconke Wampanoag, afirma ser uma honra ter tanto protagonismo já no seu terceiro trabalho cinematográfico – antes de se aventurar na frente das câmeras, ela venceu dois campeonatos mundiais de boxe. “Ter um rosto indígena na tela não só para fazer um papel de uma mulher indígena é incrível. Sempre estivemos nessas caixas que a sociedade nos colocou para contar um único tipo de história que não era a partir da nossa perspectiva. Todas as regras que tivemos até aqui [referindo-se à indústria] não são mais necessárias”, afirma a atriz-boxeadora.
“Todas nós aqui, acredito, queremos potencializar o caminho que já está lá para que as próximas pessoas possam vir com algo novo a dizer ou um novo jeito de falar algo que já tinha sido dito antes”, finaliza Issa López.
True Detective: Terra Noturna estreia dia 14 de janeiro na HBO Max, com novos episódios todos os domingos.

Fique por dentro das mais quentes noticias do momento , se inscreva no nosso jornal de notícias.

plugins premium WordPress